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13 de abr. de 2012

Discriminação disponível para Download

Acho que sempre foi assim, talvez nunca como hoje, e curiosamente, no tempo em que mais se fala de “não discriminação”. Nunca pensei é que as marcas exerceriam tanto domínio sobre as pessoas, agora são elas mesmas, as marcas, a estabelecer distinções de caráter excludente e discriminatório em nosso relacionamento, e é lógico, rapidamente estas distinções são assumidas pelos usuários, às vezes involuntariamente, mas quase sempre determinando estilo/status de grupos. Carro, moto, roupa, aparelhos tecnológicos e até comida, são os campos onde a discriminação se faz mais presente hoje em dia, como um monstro devorando nossas boas relações, passíveis de fragmentação, até que elas só existam de fato, nos grupos que consomem as mesmas marcas – apogeu do gênero consumista. Mas atualmente, o destaque vai para o mundo tecnológico, seja no computador, notebook, tablet, smartphone e até mesmo, pasmem, num simples aplicativo.

Será que você ainda tem a liberdade de escolher as marcas de sua preferência por aquilo que elas representam enquanto custo benefício, ou você está sendo levado a se submeter ao que a marca ou grupo de amigos escolhe para você? Isto é: se você der a sorte de ser escolhido por alguma delas ou por algum grupo destes!

Este tipo de domínio da marca sobre as pessoas ficou evidente em várias situações que acompanhamos na mídia – você deve lembrar – quando o Facebook ganhou o terreno do Orkut e postavam uma lápide de cemitério com a inscrição: Orkut e sua data de existência; depois quando a Apple ganhou a atenção de todos, tornando-se a marca mais valiosa do mundo, e então, os que possuíam seus aparelhos ficavam extasiados em poder dizer as maravilhas de seus “iAlguma coisa” em detrimento de qualquer outro aparelho,  e há alguns dias, aconteceu o máximo absurdo, quando o Instagram decidiu liberar seu maravilhoso serviço de edição e compartilhamento de fotos – até então, exclusividade do Apple iPhone – para o sistema operacional Android, presente na maioria dos aparelhos de celular atualmente em uso no mercado. Bastou esta decisão da marca, para centenas de usuários ameaçarem sair do tal aplicativo, pois a sua popularização constituía um atentado à exclusividade de seus aparelhos mega caros e à pretensa qualidade de suas fotografias, alegavam (leia também). Para agravar a frustração dos partidários da exclusividade Instagram/iPhone, a rede social mais popular do mundo anuncia a compra do aplicativo e multiplica, literalmente, a indignação.

Mundo louco este, mas este mundo louco é conduzido por malucos que ainda não entenderam que as marcas existem para satisfazer necessidades, encantar clientes e atender desejos, não existem para que nós satisfaçamos os seus caprichos de guerra mercadológica. Pense bem! Somos mais do que as coisas que usamos, portanto, não nos deixemos ser usados pelas coisas que consumimos, ou melhor, não permita que as marcas suscitem em você os piores instintos humanos, que, aliás, fazem vítimas há séculos, mudam-se apenas as circunstâncias e os instrumentos de exclusão, tortura e discriminação. Caso isto não pare, veremos em breve a pior consequência desta competição, será impresso no outro, sobretudo psicologicamente, que ele não é capaz de ser se não tiver isto ou aquilo. E mais, no afã de alguns querendo ser melhores do que os outros, criarão mecanismos e recursos para impedir que o outro tenha acesso ao que julgam lhes definir como pessoas melhores. Aí sim, definitivamente, na era digital teremos a discriminação disponível para Download, e mesmo que seja Free, você deverá passar por uma seleção rigorosa antes de ser admitido.

Este vídeo tem um fundo de verdade e você mesmo pode expandir a reflexão para qualquer marca que traz em seu exercito fundamentalista, aqueles que dão tudo para honrar seu título de evangelizadores de marcas.


                          



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